Quando
alguém fala em Tailândia, o que vem a sua cabeça? Mergulho em praia
paradisíaca? Festa da Lua Cheia? O filme ‘Se Beber, Não Case! 2’? Pode ser. Mas
isso, só hoje em dia porque se a mesma pergunta fosse feita uns 500 anos atrás,
sabe o que possivelmente responderiam? Riqueza. Poder. Potência. E isso não é
por causa de Bangcoc não, que naquela época não era a capital do Reino do Sião
(era assim que a Tailândia era chamada antigamente). As respostas seriam por
causa de uma cidade que talvez você nem saiba que exista no mapa: Ayutthaya
(foto), a uma hora de Bangcoc. Nunca ouviu falar? Pois enquanto o Brasil estava
sendo descoberto, lá no sudeste asiático ela já era uma das cidades mais
importantes do mundo. Ayutthaya foi a capital do antigo Reino do Sião, que
durou “só” 417 anos. A natureza deu uma mãozinha pra esse reinado tão longo: a
cidade é cercada por água, por três rios. Não precisa ser nenhum expert pra
perceber que a posição é estratégica. Comerciantes da Ásia e Europa chegavam de
embarcações na “ilha”, que não é ilha, e a barganha rolava solta. Era tanta
grana circulando por lá que a “Veneza do Leste”, como ficou conhecida, viveu
sua época de ouro. E aí, bora erguer templos e palácios pra mostrar a
exuberância do reinado para o resto do mundo e deixar claro o prestígio dos
reis. É um tal de Wat pra cá, Wat pra lá - palavra que significa templo - que
até maratonista ia suar a camisa pra ver todos numa visita só. São mais de 400!
Muitos têm tijolinhos vermelhos que nem precisam do sol para brilharem. Isso sem
contar na infinidade de estátuas de Buda, uma até banhada a ouro. Coisa fina! Só que um dia, todo esse glamour foi por água
abaixo. O pau comeu com o exército da Birmânia (hoje, Mianmar), que arrasou
Ayutthaya. A cidade ficou destruída, teve palácio que virou praticamente pó e
um monte de estátuas foram decapitadas. Sério! A parte de cima das imagens
foram arrancadas e se transformaram em Budas sem cabeça. Imagine o desrespeito
que seria para os cristãos se tirassem a cabeça do nosso Cristo Redentor? Foi
isso que fizeram com a imagem sagrada dos budistas. E não foi uma estátua só
não. A mutilação rolou em série. Mas teve uma
cabeça que “milagrosamente” sobreviveu e foi parar num lugar surpreendente:
numa árvore. As raízes abraçaram a cabeça do Buda (aqui, sem corpo) que,
sabe-se lá como, permanece intacta. É como se a árvore e o pedaço da estátua
fossem uma coisa só, desde sempre. Uma cabeça que mexe com a cabeça da
gente. Tem uma outra imagem que é
a marca registrada de Ayutthaya. Vai dizer que você nunca viu esse Buda
reclinado aí da foto? Ele tem mais 35m de comprimento e 8 de altura. Não tem
ideia do tamanho? É só ver uma pessoa ao lado dele para entender o que a gente
está falando. A estátua é tão grande que parece não caber na fotografia. Só
depois de vários passos para trás - e incontáveis cliques frustrados - é que o
corpo inteiro do Buda sai na foto. Já imaginou quantas revelações de negativos
foram parar no lixo décadas atrás? (Se você já é da geração da fotografia
digital e não faz ideia do que estamos falando, acredite: sabe quando você fica
“p. da vida” porque perdeu preciosos minutos procurando o melhor ângulo e
depois percebe que o pau de selfie apareceu na sua foto? A irritação pré-era
digital era bem maior. O buda reclinado é só um cantinho de uma cidade
cujas ruínas se tornaram um patrimônio tombado pela UNESCO. Ayutthaya pode até não
ter o mesmo apelo das praias desertas da Tailândia, nem dos cardumes coloridos
do fundo do mar, e muito menos daqueles barcos decorados com fitas coloridas
que enfeitam o papel parede da tela de computador ou de celular. Na cidade
histórica, o passeio é de bicicleta ou de tuk tuk. E nada de mar pra refrescar
a cabeça que, sim, vai esquentar! Mesmo assim, a gloriosa Ayutthaya continua
magnífica.
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