quinta-feira, 13 de outubro de 2016

As empresas que fizeram a família Bush

21/04/2004 - As livrarias americanas foram abastecidas nos últimos tempos com uma safra de livros a respeito do presidente dos Estados Unidos, George Walker Bush. Em meio a ela, há dois lançamentos que se destacam dos demais. Um, do jornalista Bob Woodward, Plan of Attack, chama atenção pelos desmentidos que gerou na Casa Branca. O presidente americano nega que os planos para a invasão do Iraque já estivessem prontos 16 meses antes da guerra. O outro, American Dynasty (Dinastia americana, Viking, 397 páginas, 18,16 dólares), pelo silêncio dos personagens retratados. Ninguém do governo ou da família Bush contestou as informações levantadas pelo autor da obra, Kevin Phillips, ex-estrategista do Partido Republicano e um dos mais importantes assessores da administração de Richard Nixon. Por dois anos, ele reuniu dados sobre a vida e a obra de quatro gerações da família de George Bush. O resultado é uma ácida biografia do clã. Phillips faz um paralelo entre a rede de relações profissionais dos Bush e as presidências de seus mais destacados membros, George Bush pai e George Bush filho. Com a leitura, descobre-se que petróleo, indústria bélica e bancos de investimento fazem parte da história dos Bush há décadas. "Eles sempre demonstraram oportunismo para os negócios. Mas em alguns casos essa voracidade superou princípios éticos", disse Phillips a EXAME. 

A história de sucesso da família começa com o bisavô do atual presidente. George Herbert Walker era um apaixonado por golfe, boxe e negócios. Em 1900, George Walker abriu uma pequena financeira. Vinte anos depois, já era diretor de 17 corporações e tinha casas em Nova York, Califórnia, Carolina do Norte e Maine. Phillips descreve Walker como um animal do mundo empresarial. Na Primeira Guerra Mundial, vendia armas através da American International Corporation. Walker também se associou ao banco de investimentos Brown Brothers Harriman, um dos mais poderosos de Wall Street até hoje. Foi exatamente nesse banco que Walker encaixou Prescott Bush, um jovem advogado formado em Yale que tinha acabado de se casar com sua filha mais velha, Dorothy. Prescott Bush, o avô do atual presidente, conseguiu cristalizar ainda mais o poderio da família. Como representante da instituição financeira, ele teve assento nos conselhos de companhias como a Pan Am, a CBS, empresas de seguro, de água e energia. Numa dessas relações empresariais, negociou armas para a Alemanha nazista do período pré-guerra. Prescott foi também o primeiro membro da família a se aventurar na política. Elegeu-se senador por Connecticut e abriu caminho para seu filho George. 

A forte ligação do clã Bush com empresas de energia é uma herança do senador Prescott. O primeiro emprego de George Bush sênior foi na Dresser Industries, uma importante companhia de energia na década de 50. Quem conseguiu essa colocação para ele foi seu pai, Prescott, que era membro do conselho da empresa. Depois da Dresser, George Bush partiu para a fundação da sua própria empresa de petróleo, a Zapata. Nessa empreitada, nos anos 60, quem ajudou foi seu tio banqueiro, George Herbert Walker Junior. Tio Herbie, como era chamado, recolheu contribuições de todos os amigos da família, muitos ex-estudantes de Yale, para abrir o empreendimento no Texas. A Zapata [Zapata Petroleum Corporation] explorou poços no Oriente Médio, no Caribe e fez contratos milionários com a Shell e com a Gulf Petroleum. George Bush, o atual presidente, também teve um começo semelhante. Fundou nos anos 70 uma companhia de petróleo, a Arbusto (Bush em espanhol), e teve conexões muito próximas com as empresas do setor. No livro, Phillips destrincha as ligações de Bush pai e Bush filho com a Enron, empresa texana de energia que faliu estrondosamente depois de maquiar balanços durante anos seguidos. Segundo Phillips, a Enron recebeu uma série de favores na administração dos Bush e retribuiu ao investir pesado nas campanhas de ambos. 

O livro, que está em terceiro lugar na lista dos mais vendidos do jornal New York Times, é apontado por especialistas como o mais embaraçoso dos lançamentos contra George Bush. Recentemente, o economista Paul Krugman fez um artigo e classificou a obra como "reveladora". Krugman disse que o livro é a melhor leitura para entender o presidente George Bush e suas técnicas de governo. Além dos elogios, Kevin Phillips vem levantando polêmica sobre uma tese que apresenta no livro. Para ele, os Bush são hoje uma versão americana das famílias reais européias. O autor identifica características do clã que comprovariam essa tese -- inclusive um longínquo parentesco nobre com os Tudor na Inglaterra -- e demonstra como o eleitorado americano ficou fascinado com a possibilidade de que filho e pai chegassem à Casa Branca. Essa foi apenas a segunda vez que pai e filho conseguiram esse feito. John Adams e Jonh Quincy Adams, há dois séculos, foram outro caso. Mas, ao contrário dos Bush, eles foram eleitos por partidos diferentes e com intervalo de 25 anos. Phillips defende que o atual clã presidencial é um caso único. O intervalo entre as suas administrações foi de apenas oito anos, eles foram apoiados pelos mesmos setores, governaram com as mesmas prioridades e até estiveram envolvidos com a mesma guerra. Neste ano de eleição, estarão mais uma vez representando os mesmos interesses. Até agora, Bush já arrecadou 160 milhões de dólares em doações para a reeleição. John Kerry, o candidato democrata, levantou apenas um quarto disso. 


Prescott Bush (avô de George W. Bush) integrava, em 1918, a sociedade secreta nazista Skull & Bones (Crânio e Ossos). Desafiado pelos colegas, invadiu um cemitério apache e roubou o crânio do lendário cacique Jerônimo.

Deflagrada a Segunda Guerra Mundial, Prescott Bush, sócio de uma companhia de petróleo do Texas, recebeu punição do governo dos EUA por negociar combustível com a empresa alemã Luftwaffe. O tribunal admitiu que ele violara o Trading with Enemy Act. Esperto, após a guerra, Prescott aproximou-se dos homens do poder, de modo a usufruir de imunidade. Tornou-se íntimo dos irmãos Allen e John Foster Dulles. Este último comandava a CIA por ocasião do assassinato de John F. Kennedy, em 1963.
A amizade com Dulles garantiu ao filho mais velho de Prescott, George H. Bush, executivo da indústria petrolífera, o emprego de agente da CIA. George destacou-se a ponto de, em 1961, coordenar a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, para derrubar o regime implantado pela guerrilha de Sierra Maestra.
Fiel às suas raízes, George H Bush batizou as embarcações que conduziram os mercenários de Zapata (nome de sua empresa petrolífera), de Bárbara (sua mulher) e Houston. A invasão fracassou, 1.500 mercenários foram presos e, mais tarde, liberados em troca de US$ 10 milhões em alimentos e remédios para crianças. (Malgrado a derrota, George H. Bush tornou-se diretor da CIA em 1976).
Triste com o mau desempenho de seu primogênito como 007, Prescott Bush consolava-se com o êxito do filho nos negócios de petróleo. E aplaudiu a amplitude de visão do filho, George H Bush quando, em meados dos anos 60, tornou-se amigo de um empreiteiro árabe que viajava com freqüência ao Texas, introduzindo-se aos poucos na sociedade local: Muhammad Bin Laden. Em 1968, ao sobrevoar os poços de petróleo de Bush, Muhammad Bin Laden (pai de Osama bin Laden) morreu misteriosamente em acidente aéreo no Texas. Os laços de família, no entanto, estavam criados.
George H Bush não pranteou a morte do amigo. Andava mais preocupado com as dificuldades escolares de seu filho George W. Bush, que só obtinha média C. A guerra do Vietnã acirrou-se e, para evitar que o filho fosse convocado, Bush pai tratou de alistá-lo na força aérea da Guarda Nacional. A bebida, entretanto, impediu que o neto de Prescott se tornasse um bom piloto.
Papai Bush incentivou-o, então, a fundar, em meados dos anos 70, sua própria empresa petrolífera, a Arbusto Energy (arbusto significa bush, em inglês). Gracas aos contatos internacionais que o pai Bush mantinha desde os tempos da CIA, George W Bush filho buscou os investimentos de Khaled Bin Mafouz e Salem Bin Laden, o mais velho dos 52 filhos gerados pelo falecido Muhammad. Mafouz era banqueiro da família real saudita e casara com uma das irmãs de Salem. Esses vínculos familiares permitiram que Mafouz se tornasse o presidente da Blessed Relief, a ONG árabe na qual trabalhava um dos irmãos de Salem, Osama Bin Laden.
A Arbusto pediu concordata e renasceu com o nome de Bush Exploration e, mais tarde, Spectrum 7. Tais mudanças foram suficientes para impedir que a bancarrota ameaçasse o jovem George W. Bush. Salem Bin Laden, fiel aos laços de família, veio em socorro do amigo Bush, comprando US$ 600 mil em ações da Herken Energy, que assumiu o controle da Spectrum 7. E firmou um contrato de importação de petróleo no valor de US$ 120 mil anuais. As coisas melhoraram para o neto do velho Prescott, que logo embolsou US$ 1 milhão e obteve um contrato com o emirado de Bahrein, que deixou a Esso morrendo de inveja.
Em dezembro de 1979, George H. Bush viajou a Paris para um encontro entre republicanos e partidários moderados de Khomeini, no qual trataram da libertação dos 64 reféns estadunidenses seqüestrados na embaixada dos EUA, em Teerã. Buscava-se evitar que o presidente Jimmy Carter se valesse do episódio, a ponto de prejudicar as pretensões presidenciais de Ronald Reagan. Papai George fez o percurso até a capital francesa a bordo do jatinho de Salem Bin Laden, que lhe facilitava o contato com o mundo islâmico. (Em 1988, Salem também faleceu, como o pai, num desastre de avião).
Naquele mesmo ano, os soviéticos invadiram o Afeganistão. Bush pai, que coordenava operações da CIA, recorreu a Osama Bin Laden, um dos irmãos de Salem, que aceitou infiltrar-se no Afeganistão monitorado pela CIA, para fortalecer a resistência afegã contra os invasores soviéticos.
As informações acima são do analista italiano Francesco Piccioni. Mais detalhes no livro: A fortunate son – George W. Bush and the making of na American President, de Steve Hatfield. A atual censura consentida à mídia nos EUA, é a omissão da história de como a CIA criou, financiou e treinou o general Noriega do Panamá; Saddam Hussein do Iraque; e Osama Bin Laden.
Agora, o neto de Prescott Bush demonstra sua fidelidade à índole do avô: invade o Afeganistão para obter, ainda que a custo do genocídio da população civil, o escalpo de Osama Bin Laden e o financiamento de fabricas do ópio para o tráfico internacional. A produção de ópio no Afeganistão tem vindo a aumentar desde a ocupação dos Estados Unidos iniciada em 2001.
Osama Bin Laden é formado em administração e economia pela King Abdul Aziz University, da Arábia Saudita. Após a morte do pai em 1968, em desastre de avião sobre os campos de petróleo da família Bush, no Texas, Osama, então com 11 anos, ficou sob a tutela do príncipe Turki al-Faisal al-Saud, que dirigiu os serviços de inteligência saudita de 1977 a agosto deste ano.
Em 1979, a pedido de George H Bush, o pai, então diretor da CIA, o tutor incumbiu Osama, já com 23 anos, de transferir-se para o Afeganistão e administrar os recursos financeiros destinados às operações secretas da CIA contra a invasão soviética àquele país. Preocupado com a ofensiva de Moscou, o governo dos EUA havia liberado a mais alta soma que a CIA recebeu, em toda a sua história, para atuar em um só país: US$ 2 bilhões.
Em 1994, quando já se tornara o inimigo público número 1 dos EUA e perdera a nacionalidade saudita, Osama Bin Laden herdou cerca de US$300 milhões da Saudi Bin Laden Group (SBG), a holding mais importante da Arábia Saudita, que controla imobiliárias, construtoras, editoras e empresas de telecomunicações. Presidida por Bakr Bin Laden, irmão de Osama, o SBG criou, na Suíça, uma empresa de investimentos, a Sico (Saudi Investment Company).
O SBG tem participação na General Electric (mesma empresa que construiu usina de Fukushima), na Nortel Networks e na Cadbury Schweppes. Suas finanças são administradas pelo Carlyle Group, dos EUA. Além de deter o monopólio da construção civil em Medina e Meca, lugares santos mulçumanos, o SBG ganhou a maioria das licitações para a construção de bases militares americanas na Arábia Saudita e a reconstrução do Kuwait depois da guerra do Golfo.
Os negócios da família Bin Laden são administrados também por um cunhado de Osama, o xeque Khaled Salim Ben Mafhuz, dono da 250 fortuna do mundo, avaliada em US$1,9 bilhão, segundo a revista Forbes. Seu pai fundou o principal banco saudita, o National Comercial Bank, sócio da Sico em diversas empresas.
Khaled Ben Mafhuz, presidente da ONG saudita Blessed Relief, na qual Osama trabalhava, investiu, nos anos 70, na companhia de petróleo de George W. Bush, a Arbusto Energy. Possui uma mansão em Houston e, graças à sua amizade com a família Bush, comprou uma área do aeroporto local para uso pessoal. (Logo após os atentados, cerca de 150 da família Bin Laden residentes nos EUA foram reunidos naquele aeroporto, a pedido da coroa saudita, e levados livremente, para o país de origem).
Mafhuz esteve envolvido no maior escândalo bancário dos anos 90, a quebra do BCCI (Bank of Credit and Commerce Internacional). Através do BCCI, Mafhuz comprou 11,5% das ações da Harken Energy Co., empresa petrolífera dirigida por George W. Bush. Com a quebra do banco, a maioria dos clientes passou ao Carlyle Group, fundo de investimentos criado em 1987, quatro anos antes da falência do BCCI, e que hoje controla cerca de US$ 12 bilhões.
O Carlyle Group é presidido por Frank Carlucci, ex-diretor-adjunto da CIA e ex-secretário de Defesa dos EUA. Um de seus principais assessores é James Baker, ex-chefe de gabinete do presidente Reagan e ex-secretário de Estado do presidente George H Bush. É o Carlyle Group que administra a maior parte dos fundos do SBG, a holding dos Bin Ladens, e entre seus consultores figuram George Bush pai e John Major, ex-primeiro-ministro da Inglaterra.
Quando o presidente George W. Bush, após 11 de setembro, enquadrou, como crime de terrorismo o “aproveitamento ilícito de informações privilegiadas”, ele sabia o que estava falando. Tudo indica que, graças a essas informações privilegiadas, Osama Bin Laden montou a sua rede terrorista mundo afora, movimentando recursos através de paraísos fiscais. Informações privilegiadas que, em boa parte, podem ter vindo dos Bush, graças aos vínculos entre as duas famílias.
Talvez Freud pudesse explicar um detalhe das armas escolhidas pelos terroristas de 11 de setembro: aviões. O pai e o irmão mais velho de Osama Bin Laden morreram em acidentes aéreos, ambos nos EUA.     http://www.vermelho.org.br/noticia/13439-9 

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