sábado, 9 de abril de 2016

Rússia fecha os olhos a atrocidades à sua porta?

09.4.2016  -  Nagorno-Kabakh é uma região no Cáucaso que do ponto de vista jurídico faz parte do território do Azerbaijão. A sua população é de 138 mil pessoas entre as quais a maioria são armênios. A sua capital é a cidade de Stepanakert.      Origem do conflito     A Armênia e o Azerbaijão não partilham de uma visão conjunta em relação à história da região de Nagorno-Karabakh (às vezes abreviado como Karabakh simplesmente). A Armênia considera que Nagorno-Karabakh fez parte da Armênia na Idade Média, mas depois foi conquistado pela Turquia e Irã. Ao mesmo tempo, segundo as fontes azerbaijanas, Karabakh historicamente pertencia ao Azerbaijão, ganhando independência mais tarde.   Em 1805 o Canato de Karabakh passou sob o governo da Rússia.   A nova página de história de Nagorno-Karabakh começou com a sovietização do Cáucaso. Em 1923 na República Socialista Soviética do Azerbaijão (que, por seu turno, era uma parte da União Soviética) foi criada a Região Autónoma de Nagorno-Karabakh com uma população principalmente da etnia  armênia. Durante toda a sua história os armênios de Karabakh se queixavam de discriminação por parte das autoridades azerbaijanas.   Fase principal do conflito     No fim dos anos 1980, quando a União Soviética passava por uma série de mudanças políticas e econômicas, com o começo de democratização do regime no país, a população de Nagorno-Karabakh se manifestou a favor da reunificação com a Armênia. Na região autônoma foi realizado o referendo sobre a pertinência de Karabakh e, em resultado, a população da região enviou o pedido às autoridades da República Socialista Soviética do Azerbaijão, República Socialista Soviética da Armênia e da União Soviética para considerar a saída de Nagorno-Karabakh do Azerbaijão e a sua entrada no território armênio.   Este passo provocou tensões na região e confrontos em base étnica em ambas as repúblicas soviéticas. As hostilidades continuaram até a dissolução da União Soviética. Entretanto, Moscou fez várias tentativas de desarmar armênios de Karabakh, mas depois de desintegração da união a situação saiu do controle.    Ainda em setembro de 1991 foi proclamada a República de Nagorno-Karabakh. Em dezembro de 1991 a população da nova república se expressou em um referendo a favor de independência completa do Azerbaijão.   Baku reconheceu este passo como ilegal e eliminou a autonomia da região. Depois disso começou um conflito sangrento no qual os armênios lutavam pela independência de Karabakh e o Azerbaijão tentava manter o controle sobre a região. Em resultado, o Azerbaijão perdeu cerca de 13% do seu território.  Segundo diferentes avaliações, ambas as partes perderam na luta até 25 mil pessoas. O protocolo de cessar-fogo só foi assinado em 12 de maio de 1994. As negociações começaram ainda em 1993. Em 1997 foi criado o Grupo de Minsk, que inclui a Rússia, a França e os EUA. O grupo elaborou varias condições de resolução do conflito, mas não foram bem-sucedidas. Desde 1999 presidentes da Armênia e do Azerbaijão reúnem-se de forma regular.  A nova fase de conflito que se iniciou em 2 de abril é a mais quente depois de o cessar-fogo ter entrado em vigor nos meados de 1990.  Mapa político do conflito     Pela primeira vista, pode parecer que o conflito toca somente em dois países – a Armênia e o Azerbaijão. Entretanto, a Rússia está perto de zona de conflito e a Turquia tem laços estreitos com o Azerbaijão. As relações entre os dois últimos desde o fim do ano passado estão na crise. Segundo muitos especialistas, a escalada atual tem uma clara marca do envolvimento turco.    A Armênia é o principal parceiro da Rússia no Cáucaso. Faz parte de duas iniciativas de integração russas na região – a União Econômica Euroasiática (UEE) e a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC). A última considera como uma das principais ameaças militares para os países da organização. Na altura em que aconteceu o abate do avião russo Su-24 na Síria a Armênia violentamente criticou o passo da Turquia e expressou o apoio à Rússia em relação deste incidente.   O Azerbaijão não prolongou a sua participação da OTSC em 1999 e é considerado um dos amigos mais leais da Turquia. Ao mesmo tempo, o Azerbaijão não assume  uma postura antirrussa e tenta desenvolver a cooperação com os dois países paralelamente. É evidente que as relações com o Azerbaijão são de muita importância para a Rússia como o país tem a fronteira comum com a região do Oriente Médio e a zona de ameaça terrorista aumentada e está envolvido nas atividades para garantir segurança na região. Os dois países desenvolvem a cooperação técnico-militar. A Rússia é um dos principais fornecedores de armas para o Azerbaijão.  Agora muitos acusam a Rússia de uma posição moderada em relação ao conflito dizendo que podia resolvê-lo prestando apoio ao seu parceiro armênio. Entretanto, não é isso que certos países mal-intencionados querem que aconteça. A nova escalada da crise entre a Armênia e o Azerbaijão não é mais que uma provocação, exigindo que a Rússia faça a sua escolha. Neste caso, a Rússia será obrigada a participar das hostilidades voltando as costas a uma das partes do conflito. Com certeza, os inimigos da Rússia querem que o país seja envolvido em um conflito próximo à sua fronteira como foi em 2008 quando a Rússia defendeu os cidadãos russos na Ossétia do Sul contra a agressão georgiana. Mas agora a situação é diferente. O conflito de Nagorno-Karabakh não é um problema interno de um país só. É uma espécie de conflito étnico e uma disputa territorial ao mesmo tempo. Ao invés da Rússia, a Turquia expressou, desde o começo de hostilidades em Nagorno-Karabakh, o seu apoio ao Azerbaijão, dizendo que um dia a região fará necessariamente parte do território azerbaijano. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan até acusou a Rússia, dizendo que Moscou é uma parte do conflito em Nagorno-Karabakh.  Muitos especialistas acusam a Turquia de participação direta nos desenvolvimentos atuais em Karabakh. É evidente que agora Ancara está obrigada a se submeter à lógica da sua própria linha política violenta em relação a Moscou. Entretanto, a Rússia mantém a calma e o silêncio sobre o papel da Turquia no conflito. Na opinião de Vadim Mukhanov, especialista do Centro de problemas do Cáucaso e segurança regional da MGIMO (Universidade das Relações Internacionais de Moscou), publicada no jornal russo Izvestia, o apoio da Turquia podia ter tido influência sobre a decisão azerbaijana de iniciar de novo ações militares na zona de conflito, mas os fatores internos foram ainda mais importantes. O especialista indica a grave situação econômico-social no Azerbaijão e a baixa de popularidade do presidente Ilham Aliyev, que o obriga a fazer algo para permanecer no poder e consolidar a nação.   No entanto, na terça-feira (5), o Ministério da Defesa da república não reconhecida de Nagorno-Karabakh informou que às 12h00 (horário local) todas as ações militares na zona de conflito foram paradas. Baku confirmou que em Karabakh entrou em vigor o cessar-fogo. Com certeza, agora é muito cedo para falar do fim de hostilidades. Infelizmente, também é pouco provável que as partes cheguem no tempo mais próximo a um consenso sobre o destino da região, especialmente, tendo em conta que na quarta-feira (6), o presidente armênio Serj Sargsyan afirmou uma vez mais que a única coisa que espera a população de Nagorno-Karabakh é o reconhecimento internacional da sua independência.

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