Em 2013, ela teve um déficit correspondia a
108% do PIB. Deveria pagar 8 bilhões de dólares em dívida externa no ano,
incluindo 3,7 bilhões de dólares para o Fundo Monetário Internacional (FMI)
referente a um empréstimo de 2008. E têm de pagar à Rússia cerca de 12 bilhões
de dólares por um ano de fornecimento de gás. No outono, a UE e o FMI
discutiram sobre um possível acordo de auxílio para a Ucrânia semelhante ao
arranjo de 15,5 bilhões de dólares fornecidos em 2010. Mas ficou claro desde o
início que, tanto por causa da gravidade da crise econômica na Ucrânia quanto
pela suspensão do acordo de 2010, depois que apenas 3,4 bilhões de dólares
foram desembolsados porque a Ucrânia havia se recusado a implementar algumas
condições, qualquer ajuda viria com condições mais difíceis. Como: o Maior
flexibilidade da taxa de câmbio para a moeda (Grívnia) da Ucrânia faria com que
ela se desvalorizasse frente ao dólar, aumentando assim o custo do petróleo
importado e do gás, sendo que ambos estão com preços cotados em dólar. o A
Ucrânia também teria de eliminar gradualmente o subsídio familiar substancial
para o custo da energia, uma das condições do acordo de 2010 que a Ucrãnia
recusou-se a implementar. No entanto, a UE e o FMI poderiam ter fornecido à
Ucrânia a assistência financeira necessária e amortecido o impacto de curto
prazo de suas condições. Mas por alguma razão – seja por causa da crise da zona
do euro, seja pela preocupação da UE com a criação de um sindicato bancário, a
aversão em fornecer fundos para um não-membro da UE que tinha desrespeitado as
condições do contrato anterior, a aversão em ajudar Yanukovych e seu governo,
ou o conhecimento do acordo no início de novembro entre Putin e Yanukovych – e
apesar do fato de que eles comprometeram bilhões de euros com um punhado de
membros da zona do euro nos últimos quatro anos, eles viraram as costas para a
Ucrânia e ao fazê-lo abriram as portas para Putin. O que motiva os protestos? - Os protestos começaram quando Yanukovych
rejeitou, em novembro, um acordo com a União Europeia, preferindo uma
aproximação comercial com a Rússia. Milhares de pessoas - favoráveis à
integração com a Europa - deram início a manifestações pacíficas e à ocupação
da Praça da Independência. Desde então, houve repressão policial aos protestos,
a aprovação de leis restringindo as manifestações e a prisão de ativistas -
fazendo com que as demonstrações antigoverno se intensificassem. Muitas pessoas
começaram a protestar menos por causa da integração à Europa e mais por temer
que Yanukovych estivesse tentando servir aos seus próprios interesses e aos de
Moscou. - O que
causou a violência de fevereiro?
- O derramamento de sangue de 20 de
fevereiro foi o mais grave até o momento. Acredita-se que 77 pessoas tenham
sido mortas e 600 feridas em 48 horas. Vídeos mostram franco-atiradores
disparando contra manifestantes. Os dois lados se culpam mutuamente, mas ainda
não está claro quem atirou a primeira pedra ou disparou o primeiro tiro.
Governo e oposição fizeram, então, um acordo, que previa anistia a
manifestantes presos e a desocupação, por parte dos opositores, de prédios
estatais. A oposição também pedia que o Parlamento discutisse mudanças na
Constituição para reduzir os poderes presidenciais. Como isso não foi aceito,
opositores promoveram manifestações diante do Legislativo. A Crise - Os grupos oposicionistas passaram a exigir a
renúncia do presidente e do primeiro-ministro. Também decidiram criar um
quartel-general da resistência nacional e organizar uma greve em todo o país. O
primeiro-ministro Mykola Azarov renunciou em 28 de janeiro, mas isso não foi o
suficiente para encerrar a crise. Em 21 de janeiro, após uma escalada ainda
mais forte da violência, um acordo entre assinado entre Yanukovich e os líderes
da oposição determinou a realização de eleições presidenciais antecipadas no
país e a volta à Constituição de 2004, que reduz os poderes presidenciais. O
acordo também previa a formação de um "governo de unidade", em uma
tentativa de solucionar a violenta crise política. - A Destituição
do Presidente - No dia
seguinte à assinatura do acordo, o presidente deixou Kiev e foi para paradeiro
desconhecido. Com sua ausência da capital, sua casa, escritório e outros
prédios do governo foram tomados pela oposição. De seu paradeiro desconhecido,
Yanukovich disse ter sido vítima de um "golpe de Estado". Após a
mudança na câmara, os deputados votaram pela destituição de Yanukovich (22/02)
por abandono de seu cargo e marcaram eleições antecipadas para 25 de maio. O
presidente recém-eleito do Parlamento, o opositor Oleksander Turchynov, assumiu
o governo temporariamente, afirmando que o país estava pronto para conversar
com a liderança da Rússia para melhorar as relações bilaterais, mas que a
integração europeia era prioridade. Yanukovich teve sua prisão decretada pela
morte de civis. Após dias desaparecido, ele apareceu na Rússia, acusou os
mediadores ocidentais de traição, disse não reconhecer a legitimidade do novo
governo interino e prometeu continuar lutando pelo país.. Em 18 de fevereiro, a
violência dos enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança chegou a
níveis inéditos - até o momento, o governo calcula 88 mortos na onda de
confrontos. As autoridades ucranianas pediram sua extradição. Ao mesmo tempo, a
União Europeia congelou seus ativos e de outros 17 aliados por desvio de fundos
públicos. Alguns dias depois, a imprensa local informou que ele foi internado
em estado grave, possivelmente por um infarto. Em 27 de fevereiro, o Parlamento
aprovou um governo de coalizão que vai governar até as eleições de maio, com o
pró-europeu Arseny Yatseniuk como premiê interino. - O
que está em jogo? - A
crise na Ucrânia faz parte de um cenário maior. O presidente russo, Vladimir
Putin, quer fazer de seu país uma potência global, que rivalize com EUA, China
e UE. Para isso, ele está criando uniões aduaneiras com outros países e vê a Ucrânia
como parte crucial disso - inclusive pelos profundos laços históricos e
culturais entre ambos. Já a UE defende que a aproximação com a Europa e
eventual entrada no bloco europeu trariam bilhões de euros à Ucrânia,
modernizando sua economia e dando-lhe acesso ao mercado comum europeu. - Líderes
da oposição - Um dos
principais nomes da oposição é Vitali Klitschko, campeão de boxe que se
transformou no líder de um movimento chamado Udar (soco). Ele planeja concorrer
à presidência da Ucrânia, com o lema "um país moderno com padrões europeus".
Após a deposição de Yanukovich, Klitschko assumiu sua candidatura para as
eleições de maio de 2014. Arseniy Yatsenyuk, líder do segundo maior partido
ucraniano, chamado Batkivshchyna (Pátria), apontado premiê interino, também é
um grande opositor. Ele é aliado de Yulia Tymoshenko,
ex-primeira-ministra-presa acusada de abuso de poder e principal rival política
do presidente Yanukovich. Tymoshenko estava presa desde 2011, e acabou solta no
mesmo dia da deposição do presidente. Em discurso aos manifestantes, ela pediu
que os protestos continuassem e disse que será candidata nas eleições de 25 de
maio. A libertação de Tymoshenko era pré-condição para a assinatura do acordo
da União Europeia com a Ucrânia. Principal adversária do atual presidente na eleição
de 2010, foi presa em 2011, condenada a sete anos por abuso de poder em um
acordo sobre gás com a Rússia, em 2009. Também compõem a oposição grupos
ultranacionalistas, como o Svoboda (liberdade), liderado por Oleh Tyahnybok, o
Bratstvo (Irmandade) e o Setor Direito - este último liderado, Dmitri Yarosh,
que também informou que será candidato nas eleições. - Interesse russo - Para analistas, a decisão do governo de
suspender a negociações pela entrada na UE se deve diretamente à forte pressão
da Rússia. A Rússia adotou medidas como inspeções demoradas nas fronteiras e o
banimento de doces ucranianos, além de ter ameaçado com várias outras medidas
de impacto econômico. A Ucrânia está em uma longa disputa com Moscou sobre o
custo do gás russo. Em meio à crise, a companhia russa Gazprom decidiu acabar a
partir de abril com a redução do preço do gás vendido à Ucrânia, o que
prejudicará a economia do país. A empresa também ameaçou cortar o fornecimento
de gás. Além disso, no leste do país – onde ainda se fala russo – muitas
empresas dependem das vendas para a Rússia. Yanukovich ainda tem uma grande
base de apoio no leste da Ucrânia, onde ocorreram manifestações promovidas por
seus aliados. Após a deposição do presidente, a Rússia disse ter "graves
dúvidas" sobre a legitimidade do novo governo na Ucrânia, e afirmou que o
acordo de paz apoiado pelo Ocidente no país foi usado como fachada para um
golpe. - A
Crimeia - A
destituição de Yanukovich aumentou a tensão na Crimeia, onde as manifestações
pró-Rússia se intensificaram, com a invasão de prédios do governo e dois
aeroportos. Com o aumento das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou,
a pedido do presidente Vladimir Putin, o envio de tropas à Crimeia para
“normalizar” a situação. A região aprovou um referendo para debater sua
autonomia e elegeu um premiê pró-Rússia, Sergei Aksyonov, não reconhecido pelo
governo central ucraniano. No dia 4 de março, ele afirmou planejar assumir o
controle militar da península. Dois dias depois, em 6 de março, o Parlamento da
Crimeia aprovou sua adesão à Rússia e marcou um referendo para definir o status
da região para 16 de março e 96% definiu a anexação da Criméia a Rússia. - A Crimeia
- O movimento russo levou o
presidente dos EUA, Barack Obama, a pedir a Putin o recuo das tropas na
Crimeia. Para Obama, Putin violou a lei internacional com sua intervenção. Os
EUA também ameaçaram a Rússia com sanções, e suspenderam as transações
comerciais com o país, além de um acordo de cooperação militar. A Rússia
respondeu afirmando que o estabelecimento de sanções também afetaria os EUA. A
União europeia também disse que poderia impor sanções, sendo criticada por
Moscou, que ameaçou uma retaliação. A Ucrânia convocou todas suas reservas
militares para reagir a um possível ataque russo e afirmou que se trata de uma
"declaração de guerra". Segundo o país, mais de 30 mil soldados
russos já foram enviados à região. Os Estados Unidos estimam o efetivo russo na
região em 20 mil militares. Em meio à crise, o Ocidente pressionou a Rússia por
uma saída diplomática. A escalada de tensão também levou a uma ruptura entre as
grandes potências, com o G7 condenando a ação e cancelando uma reunião com a
Rússia. - G7
e G8 - G7 é formado líderes responsáveis pela
geração da maioria das riquezas do mundo, os chamados países desenvolvidos: o
Estados Unidos o Japão o Alemanha o Reino Unido o França o Itália o Canadá - O Gás
- A Rússia fornece actualmente um
terço do gás natural que a Europa necessita e mais de metade deste é
transportado através da Ucrânia. Há cinco anos (2009), quando o abastecimento
foi interrompido por duas semanas, passava pela Ucrânia não metade mas 80% do
gás russo destinado à UE, lembram investigadores do Instituto para os Estudos
de Energia da Universidade de Oxford - O Gás - A UE diversificou também as suas fontes para
responder ao crescimento do consumo. Compra hoje mais gás natural da Noruega e
mais gás liquefeito (GNL), que lhe chega por mar, da Nigéria, Qatar e Líbia. Há
pouco mais de dez anos, em 2003, a Rússia era a origem de 45,1% das importações
de gás da UE contra 31,9% hoje, de acordo com o Eurostat. Mas se em termos
percentuais, o peso da Rússia tem baixado, no total de gás comprado de Moscou,
o volume tem-se mantido relativamente estável na última década. Do ponto de vista de Moscou, a venda de gás e
petróleo à Europa garante-lhe mais de metade das receitas do orçamento federal
e mais de 70% das suas exportações. E cerca de 40% das receitas do gigante
estatal russa Gazprom vêm do gás vendido aos europeus. Quanto a Kiev, depende
fortemente do gás russo, comprando-lhe mais de metade do que o país consome. Pedro
Poroshenko - Poroshenko
é um bilionário proprietário do grupo Roshen Chocolates, de um canal de
televisão e de várias fábricas. O novo presidente disse que quer restaurar a
paz na região leste do país - onde separatistas pró-Rússia ainda estão em
conflito com as forças do governo interino-, mas deixou claro que não vai
negociar com os que qualificou como terroristas que querem transformar a Ucrânia
em um Estado sem lei. "O objetivo deles é transformar o leste da Ucrânia
em uma Somália. Eu não vou permitir que ninguém faça isso ao nosso Estado e
espero que a Rússia apoie essa minha abordagem”, afirmou o novo
presidente." O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que seu país está
“aberto para o diálogo” com Poroshenko, mas deixou claro que é necessário que o
uso da força contra os separatistas seja suspenso. O novo presidente ucraniano
afirmou que espera se reunir com os líderes russos no início do mês que vem,
após um viagem para a Polônia onde ele vai se encontrar com o presidente
americano, Barack Obama, e líderes europeus. Em sua campanha, Poroshenko também
havia prometido fortalecer os laços com a União Europeia. - A reunião
do Brics - Deverá dar prioridade às discussões em torno
da criação do banco de desenvolvimento dos cinco países, o que lhes daria uma
coesão hoje inexistente. Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Esse será o
principal anúncio da cúpula que se inicia hoje. A instituição terá sede em
Xangai ou Nova Délhi, com aporte inicial de US$ 50 bilhões. A meta é que seja
uma alternativa ao Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento
(Bird), o Banco Mundial. Além do capital de US$ 100 bilhões a que pretende
chegar, a palavra "alternativa" é música aos ouvidos argentinos. A
China entrará com US$ 41 bilhões; o Brasil, a Rússia e Índia com US$ 18 bilhões
cada; e a África do Sul com US$ 5 bilhões. De certa maneira, a criação do
Arranjo (o Arranjo Contingente de Reservas, CRA, instituição de socorro) é um
FMI em miniatura, e servirá para ajudar os cinco países fundadores do grupo em
caso de crises de liquidez. À medida que o banco e o arranjo são espelhos do
Banco Mundial e do FMI, mostram a capacidade do Brics de não depender dessas
instituições. a) A União Europeia se encontra em uma difícil
situação nesse conflito, pois apoia os ucranianos na sua integridade
territorial e, ao mesmo tempo, depende das importações de gás da Rússia. b) A
Ucrânia possui uma explícita divisão: o leste é pró-Rússia, tanto étnica como
economicamente, enquanto o oeste é pró-Ocidente e europeizante. c) A revolta
popular na Ucrânia se iniciou com a decisão do presidente Viktor Yanukovich de
aceitar um acordo comercial com a Rússia e rejeitar a ajuda econômica da União
Europeia e dos Estados Unidos. d) A Rússia de Vladimir Putin quer continuar com
um grande domínio sobre a Ucrânia, pois depende das importações de gás desse
país para se abastecer.