segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Rússia quer moeda fraca para estimular exportações

02/09/2016 - O governo russo não está satisfeito com o fortalecimento da moeda nacional russa.
“O fortalecimento excessivo do rublo provoca perdas e o BC tem que agir com urgência", declarou, no final de julho, Aleksêi Belousov, um dos conselheiros econômicos do presidente russo.
O Banco Central respondeu que não planeja deixar o regime de câmbio flutuante e influenciar na cotação da moeda russa. "A taxa de câmbio flutuante é um sistema de estabilização da economia que já provou sua eficácia”, declarou o porta-voz do regulador russo.
O BC parou de regular a taxa de câmbio do rublo no final de 2014.
O regulador se recusou a comprar dólares ou vender rublos para manipular o valor do rublo. Como resultado, a moeda russa perdeu 60% do valor em relação ao euro e ao dólar norte-americano.
Principais motivos
De acordo com o BC, no primeiro semestre de 2016, o rublo cresceu 12% em relação ao dólar norte-americano e 10,5% em relação ao euro.
Isso causou preocupação nas empresas orientadas para os mercados estrangeiros.
Um rublo fraco beneficia os exportadores, que, assim, aumentam seus rendimentos em rublos, explica o analista financeiro Andrêi Kochetkov. 
"Todos os exportadores que pagam em rublos e recebem em moeda estrangeira estão interessados no rublo fraco”, diz o analista financeiro da consultoria TeleTrade, Mikhail Poddúbski. Já os importadores, os consumidores que recebem em rublos e os produtores estrangeiros querem fortalecer a moeda russa.
"Na Rússia, as crises de 1998, 2008 e 2014, ocorreram quando o rublo esteve excessivamente forte", explica Konstantin Koríschenko, chefe do departamento de técnicas financeiras  da Academia Presidencial da Economia Nacional e Administração Pública da Rússia.
Segundo ele, um rublo forte leva à redução da inflação, à diminuição dos preços dos produtos importados e das viagens ao exterior, mas, ao mesmo tempo, provoca a redução das despesas orçamentais. 
"Os preços do petróleo começaram a subir lentamente, mas as taxas russas permanecem elevadas. Isso cria boas condições para especulações de curto prazo", diz Koríschenko.
Para ele, as tentativas de especulação provocam ondas periódicas de fortalecimento do rublo.
Diferentes opções
“No início do verão de 2013, o ministro das Finanças, Anton Siluanov, declarou que as receitas de petróleo não cobrem mais o deficit orçamentário. A desvalorização do rublo deveria resolver a situação”, diz Kotchetkov.
A rígida ligação entre o rublo e os preços do petróleo permite que o Ministério das Finanças elabore um orçamento mais flexível e receba mais rublos pela mesma quantidade de dólares.
No entanto, os objetivos do Ministério das Finanças não correspondem aos objetivos do BC. Para Kotchetkov, o regulador visa a desacelerar a inflação, enquanto o Ministério das Finanças não tem esse objetivo. 
Assim, o BC precisa da moeda estável, mas o Ministério precisa manter os preços do petróleo.
“Nesta situação, o BC quase perdeu  sua influência sobre a taxa do rublo, adotou a taxa de câmbio flutuante e está tentando combater a inflação com ajuda das taxas de juros”, diz Konstantin Koríschenko. 
Além disso, o BC se recusou a realizar intervenções cambiais, mas não exclui a possibilidade de voltar a essa prática no futuro.
"Isso significa que, no caso de um fortalecimento excessivo do rublo, o regulador pode começar a acumular moedas estrangeiras para preencher as reservas cambiais", completa Koríschenko.

Três planos para tirar a Rússia da crise financeira

O presidente da Rússia, Vladímir Pútin, recebeu nesta quarta-feira (25) três planos para o fim da crise financeira, preparados pelos principais economistas do país. A Gazeta Russa explica as diferenças entre os planos e como estratégias semelhantes foram implementadas no passado.

Plano 1: Limitar os rendimentos da população

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia, o principal problema da economia do país é o crescimento do consumo e da renda da população. O Ministério sugere limitar os rendimentos da população e redirecionar o lucro das empresas para aumentar os investimentos. Segundo o plano do Ministério, a estagnação do consumo ajudará a aumentar os investimentos em 7 a 8% por ano. O governo não pode forçar todos os empregadores a restringir o crescimento de salários, mas pode pressionar as estruturas orçamentárias que dependem do Estado.
Além disso, o plano do Ministério inclui  o aumento da idade de aposentadoria para até 65 anos para ambos os sexos. Atualmente, o benefício da aposentadoria por idade é concedido aos homens aos 60 anos de idade e às mulheres aos 55 anos.

A fim de suavizar as regras no mercado de trabalho, o Ministério propõe simplificar o processo de demissão de empregados por razões econômicas, alterando o código de trabalho.

Essa prática foi adotada na União Soviética na primeira metade do século 20, quando o governo dirigiu todos os fundos ao desenvolvimento dos setores industriais em detrimento do consumo privado. No entanto, esse mecanismo foi usado em uma economia planificada, quando os fundos eram distribuídos pelos setores de forma direta.

Plano 2: Imprimir dinheiro

O segundo plano foi apresentado pelo clube Stolípin, nomeado em homenagem ao primeiro-ministro russo Piotr Stolípin, que realizou reformas agrárias bem-sucedidas na Rússia. O clube reúne os economistas mais conservadores do país. Os economistas do clube sugerem iniciar uma política de flexibilização e imprimir títulos de crédito especiais no valor de US$ 22,5 bilhões. Para excluir a influência negativa das obrigações sobre a taxa de inflação, os economistas sugerem o fim do regime de câmbio flutuante para a moeda nacional, adotado no final de 2014.

A mesma estratégia foi implementada na União Soviética, durante a maior crise financeira do bloco, no final dos anos 1980, e é considerada uma das causas do colapso da URSS. Em vários países ocidentais, no entanto, esse método é amplamente usado. "Esse tipo de política monetária é realizado pelos Estados Unidos e por diversos países europeus, mas é incorreto comparar suas condições econômicas com a Rússia", disse o analista do grupo das empresas Finam Bogdan Zváritch. Segundo ele, na Rússia, devido à alta taxa de inflação, a emissão de tantas títulos de crédito levará inevitavelmente a um aumento crítico dos preços.

Plano 3: Reformar o sistema judicial

Para Aleksêi Kúdrin, ex-ministro das Finanças da Rússia e autor do terceiro plano, é impossível assegurar o crescimento econômico sem garantir os direitos de propriedade. Por isso, segundo ele, antes de tomar medidas financeiras, é preciso reformar o sistema judicial e a polícia. Apesar de Kúdrin ter deixado o cargo ministerial em 2011 e hoje ser chefe da Comissão de Iniciativas Cívicas, oposta ao governo, ele continua sendo um dos financistas mais influentes do país. De acordo com ele, para sair da crise é preciso tornar os sistemas judiciais e de aplicação da lei mais objetivos, enquanto a participação do governo na economia deve ser reduzida em favor das pequenas empresas.
Segundo Kúdrin, para alcançar um crescimento econômico de 4% em 2019, será preciso atrair 4,5 milhões de pessoas e cerca de US$ 599 bilhões para a economia do país.

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