sábado, 14 de janeiro de 2017

Israel enfrenta uma série de escândalos sexuais

O ex-presidente israelense Moshé Katsav ao sair da prisão em Ramla, em Israel, no dia 21 de dezembro de 2016




12/01/2017  -  Uma série de revelações sobre agressões sexuais imputadas a funcionários de alto escalão obriga Israel a se perguntar sobre a persistente atitude retrógrada de certos homens, revelada graças a uma nova liberdade de palavra das mulheres.
O caso mais chocante é o de Moshé Katzav, presidente de Israel de 2000 a 2007, que acaba de sair da prisão depois de cumprir uma condenação de cinco anos por estupro.
Nos últimos meses, um general, um ex-funcionário de alto escalão do governo e um deputado figuram entre outras personalidades israelenses que foram envolvidas em casos deste tipo.
O general Ofek Buchris renunciou em julho de 2016 depois de ter sido acusado de estupro. Chegou a um acordo com a justiça, o que evitará a prisão, ao reconhecer que teve uma relação consensual com uma subordinada, o que está proibido no exército, e uma conduta inadequada com outra.
Mas o acordo provocou a revolta de parte da opinião pública. Quatro antigas mulheres-soldado publicaram um vídeo que fez muito sucesso nas redes sociais. Intitulado "as meninas de Buchris", o vídeo denuncia o corporativismo do exército em tais circunstâncias, assim como os insultos que as mulheres agredidas recebem na internet.
- 'Carne para oficiais' -
"Não somos carne para os oficiais", afirmam no vídeo.
Centenas de pessoas se manifestaram recentemente diante do quartel-general do exército em Tel Aviv, gritando: "Não é não! É tão difícil de entender?".
Esta mobilização "não ocorreu porque, de repente, existem mais escândalos do que antes (...) Simplesmente as mulheres começam a entender que podem falar, denunciar, dar nomes", explicou a organizadora da manifestação, Noga Shahar, atriz do Teatro Nacional de Israel.
Mas "o sistema judicial não responde", acrescentou.
Shahar citou o caso "indignante" de Yitzak Cohen, um juiz de Nazaré acusado de ter forçado uma funcionária a se sentar em seus joelhos e de tê-la acariciado em 2010.
O magistrado renunciou, mas um acordo depois de se declarar culpado pode evitar a sua prisão e condená-lo apenas a trabalhos em benefício da comunidade e a uma multa de 2.500 shekels (600 euros).
Não é possível saber o número exato de agressões sexuais "porque a maioria das mulheres nem mesmo se importa em ir à polícia", indicou Orit Sulitzeanu, uma funcionária da Associação de Centros de Crise contra o Estupro em Israel (ARCCI).
- Uma sociedade pouco formalista -
Mas a ação da ARCCI e uma crescente conscientização provocaram um tsunami de queixas de vítimas, afirmou.
Em 2015, os centros da ARCCI receberam 9.197 chamadas denunciando novos incidentes de agressão sexual, um aumento de 17% em cinco anos, segundo a organização.
E isso "é apenas uma parte da realidade", afirmou Orit Sulitzeanu, ao se referir ao escasso formalismo que caracteriza as relações em Israel.
"É uma sociedade majoritariamente sem distâncias" e na qual é aceitável um certo grau de contato físico, explicou.
Destaca que o lugar central ocupado pelo exército e pelo serviço militar, obrigatório para ambos os sexos, faz com que os abusos que ocorrem ali se reproduzam posteriormente na sociedade.
"Do exército se propaga à polícia e ao local de trabalho", afirmou.
O exército disse punir semelhantes condutas. Em 2015, alega, 12 ações por estupro deram lugar a investigações por parte da polícia militar, contra oito em 2014 e cinco em 2013.
O exército abriu um serviço de assistência jurídica para os militares vítimas de agressões sexuais.
A primeira mulher a quem concedeu sua ajuda foi a que acusou o general Buchris.

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